A toupeira-de-água e o galeirão-de-crista entraram para a lista de espécies em estado crítico em Espanha, de acordo com uma ordem do Ministério espanhol para a Transição Ecológica publicado a 12 de Maio no Boletim Oficial do Estado.
A Lei espanhola de Património Natural e da Biodiversidade, de 2007, determina a possibilidade de ser criado um regime de protecção especial para as espécies selvagens que precisem de uma atenção e protecção especiais.
Essa legislação apresenta uma Lista de Espécies Selvagens em Regime de Protecção Especial e um Catálogo Espanhol de Espécies Ameaçadas. Até agora, estes dois documentos já foram actualizados sete vezes, a última em Março de 2023. A 12 de Maio foi publicada mais uma actualização.
O Ministério espanhol pode declarar a situação crítica quando há dados que sustentam a possibilidade de um risco iminente de que uma espécie desapareça.
Esta declaração é um “requisito indispensável” para que a conservação destas espécies passe a ser prioritária, considerou à agência de notícias espanhola EFE o biólogo Jorge González Esteban, da DESMA Estudios Ambientales e um dos maiores peritos em toupeira-de-água.
A toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus) é um pequeno mamífero semi-aquático que já estava incluído no Catálogo Espanhol de Espécies Ameaçadas mas que agora vê a sua posição agravada. Isto porque passam a Em Perigo de Extinção o resto das populações que até agora estavam em estado Vulnerável, tendo em conta os resultados de um estudo à viabilidade populacional, a redução da sua área de distribuição e a opinião de peritos.
“Precisamos de intervenções extraordinárias para salvar um animal extraordinário. Vamos acreditar que a história acabe como no caso do lince e não como no do íbex dos Pirinéus”, disse à agência espanhola de notícias EFE.
Em Portugal, a toupeira-de-água está classificada como Em Perigo de extinção. Este pequeno mamífero, que vive junto aos rios mais límpidos e frescos, está confinado a meros refúgios. A espécie tem hoje uma área de ocupação estimada inferior a 500 km2. Segundo o Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental, publicado em 2023, “mais de 30 % das populações podem estar isoladas, separadas mais de 20 km por habitat desfavorável e confinadas às secções de montante (montanhosas) das sub-bacias onde ocorre”.
Já em 2018 um estudo científico tinha lançado o alerta para o desaparecimento desta espécie. Nos últimos 20 anos, a toupeira-de-água desapareceu de 63,5% dos locais onde existia nas bacias do Tua e do Sabor, concluiu um estudo publicado na revista científica Animal Conservation por uma equipa de cinco investigadores do CIBIO-InBIO. Entre as causas estão as alterações climáticas – já que o aumento das temperaturas extremas no Verão pode reduzir a disponibilidade de água e a abundância de presas aquáticas – e a invasão daqueles rios por dois lagostins exóticos – lagostim-vermelho-do-Louisiana (Procambarus clarkii) e lagostim-do-Pacífico (Pacifastacus leniusculus) – que se alimentam das mesmas presas.
Em Janeiro deste ano, decorreu em Madrid, Espanha, uma reunião para o desenvolvimento de uma Estratégia Transfronteiriça para a conservação da toupeira-de-água, organizada pela União Internacional para Conservação da Natureza (UICN). A reunião – onde participaram mais de 50 peritos de Portugal, Andorra, Espanha e França – teve como objetivo principal criar uma estratégia de trabalho transfronteiriça em rede para garantir a conservação desta espécie.
Em Espanha, o galeirão-de-crista (Fulica cristata) é uma ave aquática que tem registado um declínio populacional e uma redução da sua área de distribuição. Por isso, entrou pela primeira vez na lista de espécies Em Situação Crítica.
Em Portugal, os galeirões-de-crista já não se reproduzem há várias décadas, estando regionalmente extintos; a população invernante está Criticamente Em Perigo. Segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados, publicado em 2005, na altura era conhecida uma pequena população invernante em território português, com menos de 50 aves. Actualmente, na Europa, esta espécie é considerada Criticamente em Perigo de extinção, segundo a Birdlife Internacional.
Tendo adquirido este estatuto, as espécies passam a ser consideradas prioritárias na hora de destinar recursos para a sua recuperação; os projectos destinados à recuperação de populações e redução do risco de extinção serão declarados de interesse geral e com carácter de urgência. Além disso, o Ministério para a Transição Ecológica passa a coordenar as medidas de actuação para travar o declínio destas espécies em colaboração com as regiões onde habitem.
Para já serão criados dois novos grupos de trabalho para “desenvolverem acções destinadas a reduzir o risco de extinção das espécies declaradas em situação crítica”.
A ordem do Ministério espanhol para a Transição Ecológica foi publicada a 12 de Maio no Boletim Oficial do Estado. O documento fez ainda outras alterações, entre elas a entrada para a categoria de espécies em perigo de extinção das espécies de flora Gyrocaryum oppositiflorum, Lotus gomerythus e Gadoria falukei. E também o crustáceo camarão-fada (Linderiella baetica) e as borboletas Lycaena helle e Gegenes pumilio.