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Descobertos fósseis de fungos gigantes com 300 milhões de anos na região de Aveiro

05.06.2025

Um grupo de investigadores portugueses descobriu fósseis de fungos primitivos, com 300 milhões de anos, na região de Anadia, em Aveiro. A descoberta traz informações importantes sobre as interações entre fungos e plantas que moldaram a flora do Paleozoico.

Esta descoberta, descrita na revista Geobios, foi liderada pelo paleontólogo Pedro Correia, investigador do Centro de Geociências (CGEO) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), em colaboração com Artur Sá, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), e Zélia Pereira, investigadora do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG). 

“Os fósseis, descobertos nas formações geológicas da Bacia do Buçaco, correspondem a uma forma gigante de esporos de fungos micorrízicos, até então, completamente desconhecida para a Ciência”, salientou Pedro Correia em comunicado. “Pertencentes ao novo género e nova espécie Megaglomerospora lealiae, estes fósseis de fungos representam os maiores esporos documentados para a Divisão Glomeromycota do Reino Fungi.”

Esporos gigantes de fungos endomicorrízicos Megaglomerospora lealiae. Imagem: Universidade de Coimbra

Os fungos glomeromicotanos são um dos grupos mais comuns, que agrupa organismos simbióticos responsáveis pela formação de associações simbióticas com raízes de cerca de 80% das plantas vasculares conhecidas atualmente. Estes fungos formam esporos assexuados com um diâmetro de 40 a 800 micrómetros no solo e no tecido vegetal.

“Apesar da sua pequena dimensão, cerca de 1,6 milímetros de diâmetro, estes fósseis foram um gigante entre os esporos de fungos da classe Glomeromycetes, que existiram há cerca de 300 milhões de anos, no final do período Carbonífero, e nunca antes documentados em fungos glomeromicotanos fossilizados e fungos endomicorrízicos modernos”, descreveu o autor principal do artigo científico.

Para o paleontólogo, a descoberta da espécie Megaglomerospora lealiae na Bacia do Buçaco é “um avanço significativo no conhecimento da diversidade e história evolutiva acerca das interações simbióticas mutualísticas entre plantas vasculares e fungos micorrízicos”. Além disso, “estes novos achados correspondem ao primeiro registo de um fungo endomicorrízico descoberto no Carbonífero da Península Ibérica”.

Imagem geral dos esporos fúngicos preservados na superfície rochosa. Imagem: Universidade de Coimbra

No final do período Carbonífero, as concentrações atmosféricas de oxigénio atingiram níveis excecionalmente elevados, estimados entre 30% a 35%, muito acima dos cerca de 21% atuais. Esta elevada disponibilidade de oxigénio permitiu que se desenvolvessem estruturas de grandes dimensões, capazes de explorar vastas áreas radiculares para a troca eficiente de nutrientes entre organismos fúngicos e plantas, uma adaptação crucial num ambiente ecológico altamente competitivo e diversificado na época. 

Por outro lado, as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono eram relativamente baixas comparadas com outros períodos geológicos. A diminuição de CO₂, em combinação com o aumento da biomassa vegetal, exigiu uma maior eficiência na absorção de nutrientes pelas plantas, o que potencialmente impulsionou a simbiose com fungos micorrízicos. 

“Estes fungos desempenharam um papel essencial na otimização da captação de fósforo e outros nutrientes essenciais, promovendo o desenvolvimento de redes micorrízicas extensas e, consequentemente, estruturas fúngicas de grandes dimensões, quando comparadas com as atuais”, explicaram os envolvidos na descoberta paleontológica.

Imagem ampliada de um dos esporos fúngicos. Imagem: Universidade de Coimbra

A equipa de investigadores salientou que a “relevância desta descoberta reside na confirmação de que as associações simbióticas já desempenhavam um papel crucial na estruturação dos ecossistemas terrestres há cerca de 300 milhões de anos”. “O estudo deste novo fóssil, agora descrito, fornece informações importantes sobre as interações entre fungos e plantas, contribuindo para uma compreensão mais aprofundada dos processos ecológicos que moldaram a flora do Paleozoico.”  

A nova espécie é dedicada a Fernanda Leal, aluna de doutoramento da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da mesma universidade, que contribuiu para a classificação dos fungos fósseis agora descritos pela primeira vez na ciência.  

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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