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Ribeira. Foto: Helena Geraldes (arquivo)

Associações pedem reabilitação de rios para a vida selvagem

14.03.2016

Remover açudes obsoletos poderá ser o primeiro passo para reabilitar os rios e ajudar peixes como o saramugo, a lampreia, o sável e a savelha, defendem as associações Zero e FAPAS, no Dia Internacional de Acção pelos Rios.

 

Muitos são os rios em Portugal que não correm livremente, travados por dezenas de barragens e açudes, muitos deles já sem funcionar. Para a Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável e Fapas – Fundo para a Protecção da Vida Selvagem, este é um dos maiores problemas dos rios, seguido de outros como a poluição, destruição de galerias ribeirinhas, drenagem e extracção de água em período de seca e espécies exóticas como o lagostim-vermelho-do-Louisiana ou o jacinto-de-água.

No dia em que se comemora o Dia Internacional de Acção pelos Rios, a 14 de Março, estas duas associações pedem a remoção dos açudes obsoletos, uma vez que estes alteram os habitats, fragmentam os cursos de água, impedem a migração de peixes e o fluxo de sedimentos em direcção ao litoral e criam condições para a proliferação das exóticas invasoras.

Para começar, as duas associações propõem a intervenção em três rios “pejados de obstáculos à livre circulação das espécies”: o rio Alfusqueiro (que desagua no rio Águeda) – com 10 açudes num troço de 14 quilómetros, com sete a impedir a passagem de peixes -, a ribeira do Vascão (afluente do rio Guadiana) – com 32 obstáculos, mais de metade dos quais com impacte nas populações de saramugo -, e o rio Nabão (afluente do rio Zêzere), com 16 açudes e “mais de uma dezena poderia ser removida de imediato”.

Tanto a Zero como o Fapas consideram “fundamental apostar na renaturalização dos rios” e “num Cadastro Nacional de Continuidade Fluvial”, com o objectivo de se delinear uma estratégia nacional de reabilitação fluvial. Tudo porque, dizem, os rios são muito mais que “meros sistemas hidráulicos que escoam a água” e prestam “serviços de valor incalculável”.

As associações lembram que já há “experiências relevantes que nos podem indicar o caminho a seguir”, nomeadamente o projecto Reabilitação dos Habitats de Peixes Diádromos da Bacia Hidrográfica do Mondego, da Universidade de Évora, com apoio técnico-científico do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Este projecto criou em cinco açudes passagens para peixes como a lampreia-marinha, o sável e a savelha, “aumentando o seu habitat em mais de 50 quilómetros de extensão”.

Os responsáveis explicam, no site do projecto, que o objectivo foi permitir “a livre circulação piscícola entre as áreas de reprodução e alimentação”. A reabilitação de um troço do rio Mondego – considerado crucial para espécies como o sável, a lampreia-marinha e a enguia-europeia – passa pela construção de uma passagem para peixes no Açude-Ponte de Coimbra, por cinco passagens para peixes, pela remoção de um açude e pela construção da primeira passagem para peixes exclusivamente dedicada à enguia-europeia no país, no Açude-Ponte de Coimbra.

“Os resultados obtidos até ao momento são muito positivos e têm sido considerados um modelo de restauro que pode ser implementado nos rios portugueses para recuperar habitat considerado muito importante”, acrescentam.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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