Foto: Junta da Andaluzia

Andaluzia confirma redescoberta de planta que esteve dada como extinta durante 42 anos

14.05.2025

A planta Gyrocaryum oppositifolium, conhecida como “não-me-vês”, é uma das espécies botânicas mais raras e ameaçadas da flora ibérica. Depois de ter sido dada como extinta na Andaluzia há 42 anos, foi agora redescoberta no Parque Natural Sierra Morena de Sevilha.

A redescoberta da espécie na província de Sevilha foi confirmada na semana passada pela Consejería de Sostenibilidad y Medio Ambiente da Junta de Andaluzia.

Foto: Santiago Martín-Bravo/WikiCommons

“Esta espécie, que não era vista na Andaluzia há mais de quatro décadas, foi encontrada de novo no Parque Natural Sierra Morena de Sevilha, graças aos trabalhos de seguimento realizados pelos técnicos da Rede Andaluza de Jardins Botânicos e Micológico.

Agora foram encontrados mais de cem exemplares vivos naquela área protegida, o que constituiu uma verdadeira surpresa para os técnicos e botânicos, já que desde 1982 ninguém tinha conseguido detectar nenhum exemplar, apesar de esforços no terreno.

A Junta da Andaluzia salientou, em comunicado, que esta redescoberta permite alimentar a “esperança sobre a permanência da espécie no ecossistema, possivelmente vinculada pelas condições climáticas como a abundância de chuva registada este ano”.

Foto: Junta da Andaluzia

A “não-me-vês”, assim chamada pelo seu pequeno tamanho e brevidade da sua floração, é uma espécie endémica da Península Ibérica, descrita originalmente em Constantina (Sevilha) em 1982 por Benito Valdés Castrejón, investigador da Universidade de Sevilha.

Apenas se conhecem três populações muito distanciadas entre si: além do núcleo populacional da Andaluzia estão registadas outros dois em Ponferrada (Leão) e em Cadalso de los Vidrios (Madrid), descobertos nos anos 1990 e princípios de 2000.

A redescoberta da planta na Andaluzia “é um motivo de alegria mas também uma chamada de atenção para a fragilidade de muitos elementos do nosso património natural e para a necessidade de continuar a protegê-los”, comentou Catalina García, conselheira andaluz para o Ambiente.

A “não-me-vês” está classificada como Em Perigo de Extinção no Catálogo Andaluz de Flora Ameaçada e figura como prioritária no Atlas e Livro Vermelho da Flora Vascular Ameaçada de Espanha. Isto porque a espécie tem populações com muito poucos indivíduos e a braços com várias ameaças. Entre as principais pressões a esta espécie está a fraca capacidade reprodutora e a proliferação de espécies vegetais mais competitivas que beneficiam da presença humana. A isto soma-se o risco da recolecção, tanto por apaixonados por botânica como para fins científicos, segundo a Junta da Andaluzia.

Foto: Santiago Martín-Bravo/WikiCommons

Agora, esta redescoberta pode trazer novos dados sobre a sua capacidade de adaptação.

Catalina García anunciou que foram reforçados os “mecanismos de seguimento” desta espécie e que os esforços de conservação vão ser redobrados, “porque agora temos a responsabilidade colectiva de não perder um património botânico tão valioso como este”.

A responsável confirmou que os técnicos já estão a trabalhar para obter sementes das várias populações desta espécie para as conservar no Banco de Germoplasma Vegetal Andaluz para permitir acções de conservação futuras. Outra medida é o começo de uma nova fase de prospecção e busca activa de outros núcleos populacionais em zonas com características semelhantes no território andaluz.

Catalina García insistiu que a protecção desta planta vai exigir medidas específicas adaptadas à sua raridade e singularidade. “Iniciámos um novo capítulo na conservação da ‘não-me-vês’ e vamos desenvolver acções adequadas ao seu delicado ciclo vital e às peculiaridades do seu habitat.”

“Com acontecimentos como este, comprovamos que a nossa natureza ainda nos dá surpresas e que, com consistência, rigor científico e compromisso institucional, é possível recuperar espécies que dávamos por perdidas.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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