Muitas aves-do-paraíso emitem luz através da sua plumagem, descobrem investigadores

12.02.2025

Uma equipa de investigadores norte-americanos descobriu que a maioria das aves-do-paraíso são biofluorescentes, um fenómeno “escondido” que as ajuda a assinalar o seu lugar na hierarquia e a mostrar os seus dotes nos rituais de acasalamento.

O estudo feito por cientistas do Museu norte-americano de História Natural e da Universidade do Nebrasca baseou-se em espécimes de museu recolhidos desde os anos 1800. Num artigo científico publicado hoje na revista Royal Society Open Science, os investigadores salientam que esta é a primeira vez que se constata a ocorrência generalizada de biofluorescência em aves-do-paraíso.

Os investigadores descobriram provas de biofluorescência em 37 das 45 espécies conhecidas de aves-do-paraíso – representando 14 dos 17 géneros – e sugerem que este “brilho” especial é importante entre os machos para se posicionarem hierarquicamente e durante os rituais de acasalamento.

Biofluorescência registada numa ave-do-paraíso-imperial (Paradisaea guilielmi) guardada nas colecções do Museu, mostrando a ave vista de cima (à esquerda) e a sua plumagem (à direita). Foto: Rene Martin

“Os rituais únicos de acasalamento das aves-do-paraíso têm fascinado os cientistas e motivado uma miríade de estudos focados na selecção sexual e na evolução”, comentou, em comunicado, a coordenadora do estudo, Rene Martin, professora assistente na Universidade do Nebrasca e que realizou o estudo enquanto era investigadora de pós-doutoramento no Museu norte-americano de História Natural.

A biofluorescência é um fenómeno que ocorre quando um organismo absorve luz, transforma-a e emite-a numa cor diferente. Neste caso, há zonas da plumagem das aves que absorvem luz (azul ou ultra-violeta) e emitem-na em frequências mais baixas.

Recentemente, John Sparks, curador no Museu, e os seus colegas identificaram este fenómeno até então desconhecido em centenas de espécies, em especial nos peixes.

Usando sistemas especializados que recorreram à fotografia, a luzes ultravioletas e azuis e a filtros, os investigadores descobriram a biofluorescência em vários animais, desde os tubarões às tartarugas e corais.

Há cerca de uma década, Sparks trabalhou de perto com os ornitólogos do Museu para procurar este fenómeno na vasta colecção do Museu, mais especificamente nas aves conhecidas pelos seus vistosos rituais de acasalamento.

“Apesar de existirem mais de 10.000 espécies de aves descritas, com numerosos estudos a documentar as suas plumagens de cores vivas, complexos rituais de acasalamento e excelente capacidade de visão, é surpreendente como muito poucas tenham sido estudadas do ponto de vista da presença de biofluorescência”, comentou Sparks.

Entre as aves-do-paraíso, Sparks encontrou uma brilhante fluorescência amarelo-esverdeada.

O seu trabalho foi continuado por Rene Martin e Emily Carr, estudante na Richard Gilder Graduate School. A equipa olhou atentamente para a biofluorescência em aves-do-paraíso do Leste da Austrália, Indonésia e Nova-Guiné e descobriu que as aves apresentam este fenómeno não só quando expostas a luz azul mas também a luz ultravioleta. Este fenómeno é especialmente proeminente nos machos, concretamente junto ao bico, patas e penas da cabeça, pescoço e barriga. Nas fêmeas, a biofluorescência está, normalmente, limitada à plumagem no peito e barriga.

“Estas aves vivem perto do equador, onde há abundância de luz solar forte todo o ano e vivem em florestas onde a complexidade da luz é afectada por diferenças na vegetação da copa das árvores, onde os sinais de biofluorescência podem ser reforçados”, disse Emily Carr.

Os investigadores acreditam que estas aves conseguem ver estes padrões de biofluorescência, acentuados em relação à sua plumagem escura.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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