Lesma-do-Gerês. Foto: Sónia Ferreira

Lesma-do-Gerês, espécie protegida, descoberta no Parque das Serras do Porto

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A rara e protegida lesma-do-Gerês (Geomalacus maculosus) foi descoberta na noite de 7 de Maio no Parque das Serras do Porto por uma equipa de investigadores. A descoberta é importante porque ainda há poucos registos para esta espécie, cujo estatuto será em breve avaliado na primeira lista de invertebrados de Portugal.

Na noite de 7 de Maio, uma equipa de investigadores do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) foi até ao Parque das Serras do Porto à procura de invertebrados. “Fomos realizar amostragens de invertebrados de forma a colmatar a ainda bastante grande falta de informação que existe”, explicou à Wilder a investigadora Sónia Ferreira.

O Parque das Serras do Porto, com quase 6.000 hectares, é composto por seis serras – Santa Justa, Pias, Castiçal, Santa Iria, Flores e Banjas – nos municípios de Gondomar, Paredes e Valongo.

Nessa noite, os investigadores fizeram uma descoberta especial. Encontraram uma lesma-do-Gerês no tronco de um carvalho-alvarinho.

Lesma-do-Gerês. Foto: Sónia Ferreira

“Sabemos que aquando da definição do Parque esta espécie não foi tida em conta, pois não se conhecia a sua ocorrência na área. No entanto é excelente descobrir populações que ocorrem no seio do Parque e que podem ser acompanhadas mais de perto, assim como ser alvo de medidas de proteção, caso seja necessário”, comentou a investigadora.

A lesma-do-Gerês, da família Arionidae, é uma espécie legalmente protegida a nível europeu. Está contemplada nos anexos B-II e B-IV da Directiva Habitats, isto é, é considerada como uma das Espécies animais e vegetais de interesse comunitário cuja conservação exige a designação de zonas especiais de conservação, e Espécies animais e vegetais de interesse comunitário que exigem uma protecção rigorosa.

Segundo Sónia Ferreira, esta é uma lesma “acastanhada com bastante variação na coloração e que apresenta manchas amareladas (mais claras) (máculas que lhe dão o nome maculosus)”. Tem um tamanho médio a grande e pode alcançar os 12 centímetros de comprimento.

Está activa nesta altura do ano, em noites de chuva e ou elevada humidade. “Alimenta-se de líquenes e musgos pelo que, muito provavelmente, quando a observamos à noite sobre troncos de árvores ou sobre granito, andará à procura de alimento.”

Ainda pouco se sabe sobre esta lesma. Mas sabe-se que vive na metade Norte do país, em particular em florestas de caducifólias. É “conhecida da Serra da Estrela e em diversas áreas, algumas das quais serras, nomeadamente do Gerês onde é comum (e daí o seu nome comum)”.

Mapa dos registos existentes na plataforma BioDiversity4All actualmente

Sónia Ferreira já encontrou algumas lesmas-do-Gerês. “Já conheço esta espécie há quase 20 anos”, contou à Wilder. “Creio que a conheci precisamente no Gerês quando participava nos meus primeiros estudos de invertebrados.”

Depois, a investigadora passou a observá-la esporadicamente na Serra da Estrela, por exemplo. A espécie é conhecida de Vairão, localidade onde o CIBIO-InBIO está localizado. Em 2019 observou-a no Parque Natural de Montesinho e junto ao Mosteiro de São João de Arga (Caminha). No ano passado observou esta espécie numa outra freguesia de Vila do Conde, em Santo Tirso, no Parque Biológico de Gaia e encontrou um único exemplar em Alijó, no Parque Natural Regional do Vale do Tua.

“Creio que quase todas as observações foram feitas à noite, depois das 21h00-22h00 e raramente foram avistados mais de dois indivíduos. Ou seja, parece ser uma espécie com ocorrência localizada e nunca abundante.”

Na verdade, “existem ainda poucos registos” da espécie e “ainda sabemos muito pouco sobre a sua ecologia”.

De acordo com Sónia Ferreira, “a ameaça principal que enfrenta é a destruição do seu habitat, a destruição e fragmentação das florestas de caducifólias no noroeste ibérico. Em Espanha – onde ocorre nos Montes Galaicos e na Cordilheira Cantábrica – a espécie está classificada como Vulnerável. Em Portugal o seu estatuto será em breve avaliado no contexto da primeira lista de invertebrados de Portugal”. 

Preparativos para uma sessão de amostragem nocturna de invertebrados. Foto: João Nunes

A situação desta lesma-do-Gerês espelha a falta de dados para muitas espécies de invertebrados em Portugal. Para tentar colmatar lacunas, o Parque das Serras do Porto tomou a iniciativa de promover um estudo para avaliar o estado actual do conhecimento sobre invertebrados da área protegida.

“Apesar de a grande maioria de animais pertencerem aos invertebrados (animais sem coluna vertebral), pouquíssimo se sabe sobre as espécies que ocorrem no nosso país. Claro que há grupos melhor conhecidos e mais estudados do que outros, assim como regiões do país melhor estudadas que outras, mas ainda temos muito, muito para descobrir”, comentou Sónia Ferreira.

Foi nesse âmbito que a equipa do CIBIO-InBIO estava a realizar amostragens de invertebrados para conseguir informação sobre as espécies com actividade nocturna. “Um dos grupos mais fáceis de observar à noite são as borboletas nocturnas, dado que são atraídas pela luz. O que fazemos é colocar uma luz forte e aguardar que as espécies sejam atraídas. Além de borboletas nocturnas há diversos animais de outros grupos que são assim amostrados, nomeadamente escaravelhos, moscas, vespas, louva-a-deus e percevejos. Outros são encontrados por procura directa, como foi o caso do exemplar de lesma observado num tronco de árvore.”

Preparativos para uma sessão de amostragem nocturna de invertebrados. Foto: João Nunes

Agora é a sua vez.

Sónia Ferreira sugere duas formas para qualquer pessoa ajudar à conservação das lesmas-do-Gerês.

Há duas coisas muito importantes para preservar estes animais.

A primeira é ajudar a saber mais sobre eles. O uso da plataforma BioDiversity4All e a participação no projeto Invertebrados da Lista Vermelha Procuram-se! é uma excelente forma de ajudar! Só podemos preservar o que conhecemos. Por isso, se num passeio após um jantar encontrar uma lesma não hesite, fotografe e registe na plataforma a sua observação. A informação pode ser muito valiosa para o futuro desta espécie.

A outra forma é mesmo a preservação das árvores de grande porte e dos bosques de caducifólias, onde esta espécie encontra abrigo e alimento. Com a contínua destruição dos nossos bosques e abate de árvores de grande porte estamos a remover o habitat não apenas desta espécie protegida mas de muitas outras e a eliminar precioso património natural e muitas vezes também cultural.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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