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Lua no Pantanal. Foto: Marcelo de lucas/Wiki Commons

No Pantanal brasileiro, incêndios quebram recorde e ameaçam a fauna

17.09.2020

Nunca foram registados tantos incêndios durante o mês de Setembro como está a acontecer este ano na região brasileira do Pantanal, desde que começaram a fazer-se registos dos fogos no país, em 1998.

Em apenas 16 dias, registaram-se 5.603 focos de incêndio, de acordo com os números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, citados numa notícia do Globo. Este número representa uma subida de 94% face ao mês inteiro de Setembro do ano passado.

O fogo já queimou cerca de um quinto desta região considerada uma das maiores superfícies húmidas do planeta, que totaliza uma área superior a 150.000 quilómetros quadrados.

A principal causa dos incêndios são as queimadas feitas por agricultores, realizadas de forma ilegal, uma vez que está em vigor um decreto que proíbe o uso de fogo nesta região. A isto junta-se uma seca histórica, a maior dos últimos 47 anos, que contribui para que as chamas se espalhem mais rapidamente.

Na última segunda-feira, os estados de Mato Grosso e Mato Grosso – onde se situa a área brasileira do Pantanal – decretaram estado de emergência devido aos incêndios.

Já o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, admitiu no dia seguinte que o fogo do Pantanal atingiu uma “proporção gigantesca”. O governante disse ainda que o governo federal está a combater fortemente os incêndios.

No entanto, segundo a Greenpeace Brasil, o que está a acontecer é “o desmonte sistemático das estruturas e políticas públicas que promovem a protecção ambiental”. Este ano, por exemplo, o Ministério do Meio Ambiente só gastou 0,4% dos recursos para acções directas e prevê um corte no orçamento para o próximo ano, acrescenta a organização internacional.

“O Pantanal é um hotspot de biodiversidade e possui a maior concentração de vida selvagem do continente. Uma população expressiva de onças pintadas [também chamadas de jaguares] vive ali, o bioma [do Pantanal] também hospeda um dos maiores santuários de araras-azuis”, adianta a Greenpeace, acrescentando que “no momento, essas e outras espécies estão drasticamente ameaçadas pelo fogo”.

Fêmea de jaguar no Pantanal. Foto: Sharp Photography/Wiki Commons

Aqui vivem um total de 463 espécies de aves, 113 espécies de répteis e 132 espécies de mamíferos – incluindo o jaguar, espécie que devido aos fogos já perdeu 85% do seu refúgio no Parque Estadual Encontro das Águas.

“O Brasil está em chamas”

Além do Pantanal, há outras regiões do Brasil que em Setembro estão a ser atingidas de forma severa por incêndios, como a Amazónia e o Cerrado – este último considerado “a savana mais biodiversa do mundo” – avisa a Greenpeace Brasil.

A organização internacional lembra que para este e para os próximos anos estão previstas menos chuvas e aumento de temperaturas para a América do Sul, o que “é mais propício à ocorrência de fogo”.

“A combinação de um clima mais seco a outros factores, como a disponibilidade de material combustível (madeira, folhas, restos do desmatamento) e de fontes de ignição (onde entra a utilização de fogo para limpeza de área agrícola ou em processos de desmatamento) aumenta drasticamente as chances de ocorrência de incêndios”, sublinha.

A Greenpeace alerta para que as pessoas estejam atentas às acções do governo federal brasileiro e pede que partilhem a situação no Pantanal – “para que mais pessoas saibam da gravidade dos incêndios” – e que apoiem as organizações locais.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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