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Foto: Joana Bourgard

Papa Francisco: “as espécies têm um valor em si mesmas”

18.06.2015

A perda da biodiversidade é um dos sete problemas apontados pelo Papa Francisco na encíclica “Sobre o cuidado da casa comum”. Para o Sumo Pontífice, “as espécies têm um valor em si mesmas”.

 

A encíclica apresenta nesta quinta-feira pelo Vaticano – apesar de ter havido uma fuga de informação na segunda-feira – resume o que está a acontecer ao planeta: poluição e alterações climáticas, escassez de água potável, perda de biodiversidade, deterioração da qualidade da vida humana e degradação social, desigualdade planetária, fraqueza das reacções políticas e diversidade de opiniões.

“Muitos esforços na busca de soluções concretas para a crise ambiental acabam, com frequência, frustrados não só pela recusa dos poderosos, mas também pelo desinteresse dos outros”, escreve o Papa Francisco. “Precisamos de nova solidariedade universal”.

A questão da perda de biodiversidade ocupa onze parágrafos da encíclica. O Sumo Pontífice lamenta a extinção das espécies, a perda das florestas, as monoculturas, a transformação das zonas húmidas em terrenos agrícolas, o desaparecimento dos mangais, a sobre-exploração pesqueira ou a degradação dos recifes de coral.

“As estradas, os novos cultivos, as reservas, as barragens e outras construções vão tomando posse dos habitats e, por vezes, fragmentam-nos de tal maneira que as populações de animais já não podem migrar nem mover-se livremente, pelo que algumas espécies correm o risco de extinção”, lembra ainda, apontando a criação de corredores ecológicos como uma forma de minimizar impactos.

Numa encíclica em que se dirige “a cada pessoa que habita neste planeta”, o Papa diz que não devemos pensar nas espécies “apenas como eventuais recursos exploráveis, esquecendo que possuem um valor em si mesmas”.

Neste documento tanto cabem as espécies com maior visibilidade como “os fungos, as algas, os vermes, os pequenos insectos, os répteis e a variedade inumerável de microorganismos” necessários ao bom funcionamento dos ecossistemas.

“Anualmente, desaparecem milhares de espécies vegetais e animais, que já não poderemos conhecer, que os nossos filhos não poderão ver, perdidas para sempre.”

Para o futuro, o Papa deixa uma sugestão: compreender melhor os nossos ecossistemas. “Cada território detém uma parte de responsabilidade no cuidado desta família, pelo que deve fazer um inventário cuidadoso das espécies que alberga a fim de desenvolver programas e estratégias de protecção, cuidando com particular solicitude das espécies em vias de extinção”, aconselha.

Na encíclica, o Papa Francisco procura ainda “chegar às raízes da situação actual” e propõe “linhas de maturação humana inspiradas no tesouro da experiência espiritual cristã”.

O cronista do jornal britânico The Guardian, George Monbiot, acredita que esta encíclica pode ser um momento de viragem na forma como olhamos para a natureza. O Papa Francisco “lembra-nos que o mundo natural dá-nos não só bens materiais e serviços tangíveis mas também é essencial em outros aspectos do nosso bem-estar”.

O autor do livro “Feral – rewilding the land, sea and human life” (2013) aproveita mesmo para nos desafiar a uma honestidade emocional. “Por que lutamos pelo mundo natural? Dizermos que é porque vamos perder dinheiro é desonesto. A verdade é que nos importamos porque sentimos amor pela natureza. E chegou a altura de o dizer.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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