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ONU apresenta o maior estudo mundial sobre polinizadores 

26.02.2016

Mais de 16% dos polinizadores vertebrados e mais de 40% dos invertebrados – especialmente abelhas e borboletas – estão ameaçados de extinção no planeta, revelou hoje a ONU numa conferência em Kuala Lumpur (Malásia), desvendando os detalhes da primeira avaliação mundial à saúde dos polinizadores.

 

Durante dois anos, 77 peritos de todo o mundo avaliaram o estado das espécies polinizadoras no mundo, tendo ouvido governos, inúmeras entidades locais e compilado cerca de 3.000 artigos com informação científica e conhecimento indígena e local de mais de 60 sítios do planeta.

Esta avaliação foi feita para o painel da ONU para a Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas (IPBES), um IPCC (painel inter-governamental para as alterações climáticas) para a natureza, criado em Abril de 2012, e que hoje tem 124 membros. O estudo foi apresentado hoje na 4ª Sessão Plenária do IPBES, a decorrer de 22 a 28 de Fevereiro em Kuala Lumpur.

Uma das conclusões deste estudo tem a ver com a taxa de espécies ameaçadas. O grupo mais em risco é o dos polinizadores invertebrados, como as borboletas e as abelhas. Mais de 40% destas espécies estão ameaçadas a nível local. “O seu declínio deve-se, principalmente, às alterações no uso do solo, a práticas agrícolas intensivas e ao uso de pesticidas, espécies exóticas invasoras, doenças e pragas e alterações climáticas”, disse Robert Watson, vice-presidente da IPBES, em comunicado.

Além disso, mais de 16% dos polinizadores vertebrados – como os morcegos – estão ameaçados de extinção; nas ilhas, essa percentagem sobe para os 30%. E, segundo este estudo, são de esperar mais extinções.

Neste cocktail de perigos, destacam-se os insecticidas neonicotinoides. Estes são uma ameaça aos polinizadores em todo o mundo e os efeitos a longo prazo ainda não são conhecidos. “Apesar de persistirem lacunas no nosso conhecimento sobre os polinizadores, temos provas mais do que suficientes para agir”, constatou Vera Lucia Imperatriz-Fonseca, investigadora na Universidade de São Paulo e co-autora deste estudo.

Hoje em dia são mais de 20.000 as espécies de abelhas selvagens, além de muitas espécies de borboletas, moscas, traças, vespas, besouros, aves, morcegos e outros animais que ajudam à polinização de culturas como frutas, vegetais e nozes. “Sem os polinizadores, muitos de nós deixaríamos de poder apreciar café, chocolate e maçãs, bem como muitos outros alimentos que fazem parte do nosso dia-a-dia”, lembrou Simon Potts, o outro co-autor do estudo e investigador na Universidade de Reading (Reino Unido). Estima-se que 75% das culturas alimentares do mundo dependam da polinização.

Segundo os autores do estudo, há uma série de coisas que se podem fazer para ajudar os polinizadores. Muitas delas passam por uma agricultura sustentável que ajude a diversificar a paisagem agrícola e que utilize processos ecológicos como parte da produção de alimentos.

Ainda assim, os autores apontam cinco ajudas específicas: criar ou manter uma maior diversidade de habitats para polinizadores nos campos e nas cidades; apoiar práticas tradicionais que gerem a riqueza dos habitats, a rotação de culturas e a colaboração entre conhecimento científico e local; trocar conhecimentos e educar os agricultores, cientistas, indústria, comunidades e o público em geral; reduzir os pesticidas e melhorar a segurança no comércio de polinizadores.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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