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Há mais de 25.800 espécies ameaçadas no mundo

13.12.2017

O planeta tem hoje 25.821 espécies ameaçadas de extinção, segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), actualizada a 5 de Dezembro. Portugal tem 338 espécies nesta lista.

 

A mais recente actualização da Lista Vermelha, que toma pulso ao estado de conservação das espécies ameaçadas do planeta, diz que Portugal tem um total de 338 espécies ameaçadas. Destas, 96 são plantas e 239 são animais.

No mundo botânico, há uma espécie já extinta, 26 Criticamente em Perigo, 34 Em Perigo e 36 Vulneráveis. Se incluirmos outras categorias, como Informação Insuficiente ou Pouco Preocupante, a lista vermelha de plantas de Portugal chega às 633 espécies.

Quanto aos animais, Portugal tem nesta Lista Vermelha duas espécies já extintas, 70 Criticamente em Perigo, 53 Em Perigo e 116 Vulneráveis. No total, a UICN inclui 2.124 espécies de animais para Portugal.

Das 338 espécies ameaçadas para Portugal, as plantas são o grupo com mais espécies (96), logo seguido pelos moluscos (81) e dos peixes (64). Outros invertebrados surgem com 60 espécies, as aves com 15 espécies, os mamíferos com 13, os répteis com cinco e os anfíbios com uma espécie. A lista vermelha para Portugal inclui ainda três fungos.

De acordo com a Lista Vermelha da UICN, os países com mais espécies de animais ameaçadas são a Indonésia (com 863 espécies), Madagáscar (746), Índia (675), Malásia (557) e as Filipinas (550). Na Europa, Grécia e Espanha, ambas com 430 espécies, são as líderes desta tabela.

Este ano, a UICN destaca como principais preocupações para a biodiversidade a produção agrícola intensiva, que está a empurrar para a extinção várias espécies de culturas selvagens – como espécies de arroz e trigo -, e as más práticas de pesca que ameaçam espécies icónicas de golfinhos.

“Ecossistemas saudáveis e ricos em espécies são fundamentais para conseguirmos alimentar uma população mundial crescente e alcançar o objectivo 2 do desenvolvimento sustentável da ONU: acabar com a fome em 2030”, comentou em comunicado Inger Andersen, directora-geral da UICN. “Por exemplo, as culturas selvagens mantêm a diversidade genética das culturas agrícolas que se conseguem adaptar a um clima em mudança e garantem a segurança alimentar. Hoje a Lista Vermelha da UICN lança o alerta para o seu declínio e sublinha a urgência em conservá-las, para bem do nosso próprio futuro.”

Esta Lista avaliou o estado de conservação de 26 espécies selvagens de trigo, 25 de arroz e 44 de inhame. Para muitas, este trabalho ainda nunca tinha sido feito. No total, três espécies selvagens de arroz, duas de trigo e 17 de inhame estão em risco de desaparecer. As causas apontadas são a desflorestação, expansão urbana e agricultura intensiva.

“A diversidade genética oferecida pelas espécies selvagens permite-nos desenvolver culturas mais resilientes numa era de alterações climáticas, ajudando a garantir a segurança alimentar”, disse Nigel Maxted, da UICN. “Graças a esta nova avaliação podemos conservar, de forma sistemática, os parentes selvagens das culturas agrícolas, através da redução das práticas de agricultura intensiva, como o uso indiscriminado de herbicidas.”

Outra das grandes preocupações de 2017 é o estado de conservação do golfinho do Irrawaddy (Orcaella brevirostris) e do boto-do-índico (Neophocaena asiaeorientalis). Ambas as espécies estão em declínio, passando do estatuto de Vulnerável para Em Perigo. Nos últimos 60 anos, a população do golfinho do Irrawaddy caiu para menos de metade; o mesmo aconteceu com o boto-do-índico nos últimos 45 anos.

As duas espécies vivem em águas pouco profundas, perto da costa, e as populações estão confinadas a sistemas de água doce. A principal causa do seu declínio é ficarem presas em redes de pesca, a juntar ao declínio das suas presas (peixes) e destruição de habitats.

Do lado das boas notícias estão várias espécies de kiwi na Nova Zelândia, graças a anos de projectos de conservação. O controlo de predadores em pequenas ilhas daquele país permitiu que o kiwi Okarito (Apteryx rowi) e o kiwi-castanho-do-norte (Apteryx mantelli) tenham passado agora da categoria de Em Perigo para Vulnerável.

Os esforços do Governo e da sociedade basearam-se no controlo de predadores e na remoção e incubação de ovos, para garantir maiores hipóteses de sobrevivência, e na libertação na natureza. O kiwi Okarito aumentou de 160 indivíduos em 1995 para cerca de 450 hoje. O kiwi-castanho-do-norte regista aumentos populacionais de 2% ao ano, apesar de as populações não geridas continuarem a declinar.

“As aves são excelentes indicadores da saúde do ambiente a larga escala”, notou Ian Burfield, coordenador da Ciência Global na BirdLife International. “Uma espécie com um elevado risco de extinção é um sinal de alarme preocupante para as acções que precisam ser tomadas já. Felizmente, o sucesso na conservação dos kiwis mostra que os esforços de conservação valem a pena, desde que tenham o apoio e recursos necessários.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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