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Há mais duas estações para aproximar portugueses da natureza

15.06.2016

Portugal tem agora mais duas Estações da Biodiversidade, inauguradas a 29 de Maio em Mira, distrito de Coimbra. Por todo o país há quase 40 espaços destes, com enorme biodiversidade e que o ensinam a identificar borboletas, libélulas, flores e muitas outras espécies portuguesas. A melhor parte é que há uma base de dados nacional onde pode partilhar com os cientistas todas as espécies que encontrou.

 

A borboleta-zebra (Iphuclides feisthamelli) e a planta salgueira (Lythrum salicaria) são duas das espécies que pode encontrar e identificar na Estação da Barrinha de Mira, percurso com 1,2 quilómetros ao longo da margem direita da Barrinha.

Na Lagoa de Mira pode encontrar cinco Biospots com informação científica para o ajudar a identificar borboletas e libélulas.

Estes dois locais têm uma biodiversidade muito própria, especialmente de libélulas e libelinhas. Ambos se situam numa “área de interesse prioritário para a conservação da biodiversidade europeia, o Sítio da Rede Natura 2000 Dunas de Mira, Gândara e Gafanhas”, explicou à Wilder Patrícia Garcia-Pereira, investigadora do Centro para a Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (Ce3C) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e coordenadora da Rede de Estações da Biodiversidade.

A ideia por detrás das Estações da Biodiversidade é facilitar a vida a quem gosta da natureza e transformar esse gosto em algo útil. Estas estações são percursos pedestres curtos, com um máximo de três quilómetros, sinalizados no terreno com nove painéis informativos em madeira. Estes painéis têm um mapa e informações sobre 40 a 50 espécies emblemáticas e comuns que os visitantes podem observar. Para cada espécie há uma fotografia, o nome comum e o científico, a classificação taxonómica e curiosidades sobre o seu ciclo de vida, distribuição, biologia, conservação ou usos humanos e crenças populares. As plantas e os insectos têm especial destaque, dado que são a base da conservação dos ecossistemas terrestres.

 

Libellula fulva nos Biospots da Lagoa de Mira. Foto: Albano Soares/Tagis
Libellula fulva nos Biospots da Lagoa de Mira. Foto: Albano Soares/Tagis

 

E além de passear na natureza pode ainda registar todas as espécies que encontrar e enviar essa informação para uma plataforma científica nacional, o Biodiversity4all. Estará a participar na inventariação e monitorização da biodiversidade daquele local.

 

“Estas estações são feitas para as pessoas”

 

A primeira Estação da Biodiversidade foi inaugurada a 22 de Maio de 2010 no Parque Biológico de Vinhais. Hoje já se aproximam das 40, espalhadas por todo o país. O projecto começou por ser financiado pelo fundo EEA Grants ONG mas hoje é financiado, na sua maioria, pelos municípios de quem frequentemente parte a iniciativa de quererem ter uma estação da biodiversidade. Mas “qualquer entidade pode financiar a criação de uma estação”, diz a responsável. Cada uma custa cerca de 5.000 euros (incluindo o trabalho de campo e o material).

“Na hora de escolher um local para uma estação da biodiversidade optamos por uma zona com um habitat muito bem preservado, com potencial de biodiversidade mas com um fácil acesso para ser visitado, por exemplo, por um autocarro com uma turma.” “Estas estações são feitas para as pessoas”, lembrou Patrícia Garcia-Pereira, à frente de uma equipa de seis pessoas.

 

Biospots da Lagoa de Mira. Foto: Rui Félix/Rede de Estações da Biodiversidade
Biospots da Lagoa de Mira. Foto: Rui Félix/Rede de Estações da Biodiversidade

 

Nos bastidores da criação desta rede estão milhares de horas passadas no campo, a inventariar as espécies que existem a nível local, a criar uma base de milhares de fotografias de borboletas, libélulas, libelinhas, flores, abelhas, moscas, escaravelhos e a montar os painéis informativos. Nas Estações da Biodiversidade estão registadas cerca de 750 espécies e é possível observar 77% das borboletas e 68% das libélulas e libelinhas que ocorrem no país.

Patrícia Garcia-Pereira adiantou que este ano, o Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal vai editar três publicações para a Rede: um roteiro que faz a compilação de mapas e das informações nos painéis, revista e melhorada; um guia digital com todas as espécies de insectos registadas e outro com as espécies de plantas.

Outra das novidades da Rede é a inauguração, nesta sexta-feira, dia 17 de Junho, da Estação da Biodiversidade da Praia da Amoreira, em Aljezur, com 1,6 quilómetros de extensão. “O percurso passa por uma duna secundária, sobe por uma arriba paralela ao mar e acaba no pinhal. É uma colecção de endemismos da costa vicentina, com uma enorme diversidade, muito bem preservada”, resumiu a responsável.

“A inauguração da estação da Barragem da Bravura, em Lagos, também está para breve, assim como a primeira estação no distrito de Lisboa, em Fontelas, Loures. Para o próximo ano estão previstas inaugurações das estações Polje de Minde, Mata da Margaraça, Vale do Zêzere e Lamas de Olo”, acrescentou.

Para Patrícia Garcia-Pereira, “é muito gratificante perceber que este projeto vai ao encontro das necessidades e prioridades definidas por muitos municípios e regiões”, relacionadas com “a promoção do nosso património natural, educação e sensibilização ambiental, e também o desenvolvimento do turismo de natureza”.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais sobre onde encontrar as Estações da Biodiversidade e como participar no site do projecto.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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