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À conversa com o coordenador do censo à vaca-loura

07.02.2017

João Gonçalo Soutinho, 21 anos, é biólogo recém-licenciado e um apaixonado por escaravelhos que dependem da madeira morta de carvalhos e castanheiros. É o coordenador do primeiro censo à vaca-loura (Lucanus cervus), cujos resultados acabaram de ser divulgados.

 

 

Wilder: O que mais te fascina nestes animais?
João Gonçalo Soutinho: Sou apaixonado por escaravelhos saproxílicos, pela sua relação com madeira morta e pela sua função nos ecossistemas. A vaca-loura é uma espécie única, devido às suas dimensões e ao seu valor iconográfico. É o exemplo perfeito para demonstrar a importância, a função e a ligação que estes seres vivos têm com a natureza. No entanto encontra-se em declínio em quase toda a sua área de distribuição, facto que levou à sua inclusão na Diretiva Habitats. Em Portugal há uma enorme falta de conhecimento sobre esta espécie, como podemos ver pelos dados que conseguimos compilar este ano. Ainda assim, esta é uma das espécies que está melhor estudada em toda a Europa. Como estarão as restantes?

 

W: Foste com a equipa do censo para o campo, à procura de vacas-louras?
João Gonçalo Soutinho: Fui sim, mas normalmente não só à procura da vaca-loura. Todos os 10 membros da equipa fazem bastante trabalho de campo para os seus projetos de investigação específicos, e, por vezes, também nos cruzamos com estas espécies.

 

Vaca-loura. Foto: Tatiana Moreira

 

W: Recordas algum dia de trabalho de campo em especial?
João Gonçalo Soutinho: Sim. Fizemos uma saída para ver vacas-louras. Em Julho recebemos uma chamada da Quinta Ecológica da Moita, em Aveiro, onde tinham sido observados mais de 50 indivíduos numa só árvore, ao mesmo tempo. Algo que nunca tínhamos visto e até achámos difícil de acreditar. Deslocámo-nos lá no dia seguinte e conseguimos contar 37 vacas-louras! Infelizmente apenas 10 estavam vivas. As outras tinham sido predadas por um mamífero durante a noite e as suas carcaças estavam no solo junto à árvore. Foi bastante interessante e ficámos fascinados com a experiência.
Mais tarde descobrimos que isto é algo que pode acontecer com “relativa facilidade”, pois estes seres vivos são muito atraídos pela seiva de carvalhos, que havia em grandes quantidades na árvore onde os encontrámos. No entanto é apenas possível em locais onde a vaca-loura esteja relativamente bem conservada. Acabámos por saber de, no mínimo, mais 3 “surtos” destes durante o Verão de 2016. O que nos deixa muito felizes.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Conheça aqui os resultados da rede portuguesa de monitorização da vaca-loura e saiba como pode ajudar.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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