Morcego-anão (Pipistrellus pipistrellus). Foto: Gilles San Martin/Wiki Commons

O melhor dos morcegos acontece em Mafra nas Jornadas Quiropterianas

Mafra recebe dois dias (10 e 11 de Maio) dedicados inteiramente aos morcegos, nas III Jornadas Quiropterianas. Entre as iniciativas está um BatBlitz para saber quantas espécies ocorrem na Tapada de Mafra e que vai usar capturas com redes e detecção acústica.

Nesta época do ano, os morcegos em Portugal começam a reunir-se nos abrigos de maternidade para terem as suas crias lá para Junho. Algumas espécies até já têm as suas crias.

Esta é, portanto, uma altura muito importante para estes animais tão especiais. E uma boa razão para os celebrar com dois dias repletos “de morcegos”, de 10 a 11 de Maio.

O grande objectivo dos “Morcegos em Mafra” é falar sobre morcegos e juntar quem trabalha para saber mais ou conservar estes animais.

Nestes dias são organizadas várias atividades, incluindo uma formação para educadores e outros interessados na Escola José Saramago, na sexta-feira à tarde, visitas noturnas gratuitas ao público na Tapada Nacional de Mafra, onde será possível observar o trabalho dos cientistas e a construção do conhecimento científico, bem como trabalhos de investigação científica. 

Uma das actividades previstas é o BatBlitz, na noite de sexta-feira (18h00 às 22h30), “para recolher informação sobre os morcegos da Tapada de Mafra”, explicou à Wilder Luísa Rodrigues, técnica do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e dos corpos sociais da associação Morcegos.PT.

Actualmente estão registadas naquele espaço 14 espécies mas até pode ser que o BatBlitz permita descobrir novas espécies para a Tapada.

Segundo explicou Luísa Rodrigues, os especialistas estão organizados em quatro estações de amostragem, em que cada uma vai usar uma metodologia diferente como, por exemplo, a captura de morcegos em redes finas e vários instrumentos para detecção acústica. O evento terminará às 22h30 para apresentação dos resultados obtidos em cada estação de amostragem.

Este BatBlitz faz parte das celebrações da 28ª Noite Internacional dos Morcegos, iniciativa da Eurobats.

No sábado vão realizar-se as III Jornadas Quiropterianas na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, onde a comunidade científica vai apresentar trabalhos académicos sobre a conservação e divulgação à comunidade.

Há “um excelente equilíbrio entre os morcegos que habitam Mafra e que ajudam a preservar os livros da famosa biblioteca do Palácio, protegendo-os dos insetos. Referimo-nos à biblioteca considerada uma das mais importantes da Europa, com um valioso acervo de cerca de 30.000 volumes, sendo um símbolo da ilustração esclarecida do século XVIII”, salientam os organizadores do evento.

Esta iniciativa é organizada pela Morcegos.pt uma associação dedicada à promoção da investigação e conservação das populações de morcegos em Portugal.

Novas ameaças de grandes projectos fotovoltaicos

Segundo Luísa Rodrigues, talvez a maior ameaça à generalidade dos morcegos de Portugal seja a “alteração do coberto vegetal”. Este será um desafio cada vez maior por causa dos grandes projectos fotovoltaicos que afectam áreas muito grandes. “Receamos que a alteração venha a ser bastante catastrófica”, em especial porque há projectos a crescer perto de abrigos para morcegos de importância nacional, alertou a especialista.

A par desta ameaça mantêm-se outras, como o uso desregrado de pesticidas e as alterações climáticas, que trazem episódios climatéricos extremos. Uma das consequências é a alteração dos ritmos biológicos de alguns morcegos, com espécies a registar nascimentos mais cedo.

“Algumas crias nascem mais cedo do que o habitual porque os Invernos são mais amenos mas o problema é que nessa altura ainda não há insectos suficientes para as alimentar”, explicou Luísa Rodrigues.

Apesar de tudo, das pressões e ameaças que enfrentam, os morcegos em Portugal têm uma situação estável, acrescentou a especialista. Ainda assim, “a qualquer momento a sua situação pode degradar-se por completo”.

O evento conta ainda com o apoio de várias entidades do concelho de Mafra que acolhe o evento promovendo o conhecimento científico e sinergias entre várias entidades representativas do BEM, o Real Edifício de Mafra, Património Mundial da UNESCO.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.